Quanto vale uma vida?
Quanto vale uma vida?
No dia 25 de maio de 2012, comprei um
jornal local, daqueles que tem uma mulher seminua na frente, onde anuncia acima
da foto da mulher que, um traficante estava pagando dez mil reais pela cabeça
de um cabo da PM. Fiquei pensando será que ele quer numa bandeja de prata?
Claro que depois de pensar muito,
cheguei à conclusão que: esse cabo da PM, talvez seja um homem honesto, com
filhos e uma bela esposa. Certamente tem pai e mãe, que torcem e se orgulham
dele. Fora os filhos, pais e esposa, esse homem certamente tem amigos, colegas
de escola, em fim, alguém gosta dele, se importa com ele.
Porém, talvez esse homem, não seja
nada honesto, não tenha filhos e nem uma bela esposa. Talvez não saiba quem são
seus pais, nem tenham amigos da escola, ou alguém pra aquecê-lo no frio da
noite de Manaus, muito embora Manaus só faça uma lembrança de frio nas
madrugadas chuvosas. Mas será que isso dá o direito de alguém encomendar a
morte de outro ser humano? Mesmo que esse cabo, seja alguém terrível, será que a
morte é a maior punição? Porém talvez esse senhor, cabo da Polícia Militar,
tenha causado muitos danos, prejuízos e seja tão ruim, que agora tenha um premio
por sua cabeça dura.
Quando eu era adolescente, mais ou
menos doze anos, presenciei uma cena terrível. Uma viatura vascaína seguiu um
carro de um cidadão que estava cheio de crianças no banco traseiro, e efetuou
três disparos. Graças a DEUS ninguém saiu ferido. O cidadão era um político de
Manaus, que estava saindo de casa, numa bela tarde de sábado, e na descida do
conjunto Rio Xingu – primeira etapa, para pegar a Avenida Brasil, o policial
abordou o carro que era novíssimo e por que estava sem uma das placas tentou
tirar proveito da situação.
Bem, quando me apresentei como
testemunha do ocorrido, fui agredido por um sargento que estava visivelmente
embriagado. Levei uma tapa e me esborrachei no asfalto da Avenida Brasil, no
Bairro da Compensa. O PM jogou os meus livros, me chamou de trombadinha e me
mandou embora se não ele iria me dar um tiro, chegou a sacar do revolver, pois
uma multidão se apresentou como testemunha do ocorrido.
Mas o tempo passa ... e o adolescente
aqui virou homem. E um belo dia quando ainda trabalhava numa livraria no centro
da Cidade, já tinha meus dezenove anos, eu estava com a minha turma do trabalho
e mais uns colegas da escola, quando encontrei o PM, numa lanchonete do centro.
Reconheci imediatamente, agora um velho PM. Como o tempo passou para mim,
também passou para o PM, eu estava em pleno vigor físico e o meu algoz estava
velho e puxava de uma perna vítima dum derrame.
Falei com a turma a respeito do que
havia ocorrido, e o chamei pelo nome e patente, ele respondeu virando a cabeça
para a direção da minha voz, não me reconheceu claro, quem bate esquece, mas
quem apanha não, então me apresentei e falei a respeito do que ele fizera
comigo, como covardemente ele me agredira, e ele pasmo ficou sem saber o que fazer.
Então lhe falei que o perdoava, e que, a vida iria puni-lo por todas as coisas
ruins que ele fizera. Tivemos uma longa conversa e foi assim que fiquei sabendo
dos dois derrames que ele havia tido.
Muito bem, mas voltando aos dez mil
reais pela cabeça do Cabo da PM. Fiquei a meditar uma tarde inteira, enquanto
lia a minha bíblia, no valor proposto pelo traficante e, que talvez nem seja
verdade o que esse cabo anda dizendo no jornal. Mas afinal quanto vale um cabo
da PM?
Vou contar mais uma história.
Um belo dia da semana quando andava
com a minha moto pelas ruas de Manaus, me deparei com uma blitz, e eles me
pararam. Pediram os meus documentos e o da moto, porém eu tinha esquecido a
minha habilitação em casa, mas estava como o documento da moto, me apresentei,
falei que eu era homem honesto, pagador de impostos, e funcionário na época de uma
Instituição ligado a Justiça, encontrei minha identidade, que comprovava que a
moto me pertencia.
Bem o soldado ficou bravo comigo,
falou de minha irresponsabilidade e de como eu era incompetente, como eu era a
escória da sociedade e de como ele era bom. Então tentando aparentar a maior
calma do mundo, perguntei quem era o mais antigo ali naquela blitz, esse é um
jargão militar, e ele chamou um cabo. Apresentei-me novamente, expliquei a
situação do documento e que a moto era minha, porem o PM me acusou de ter
levantado a voz com ele. Bem, expliquei que não fizera isso, mas o soldado,
disse: - Olha aí ele está todo nervosinho, deve está devendo alguma coisa.
Expliquei onde trabalhava e perguntei se eles iriam querer alguma coisa com a Instituição
onde trabalhava só pra intimidar, eles recuaram, mas disseram algo
interessante: - Companheiro libera aí o da coca-cola. Ri e perguntei: - E quanto
custa essa coca-cola? – Qualquer vinte reais, responderam eles. Paguei os vinte
e fui embora. (coca-cola cara essa).
Hoje fico me perguntando quanto vale
um PM? Talvez vinte reais, ou cinqüenta, ou mais. Porém o cidadão aqui que deu
os vinte reais, quanto vale? Vale os mesmos vinte reais.
O grande problema não está na PM, ou
nos PMs, mas sim na sociedade, como um mal crônico. Todo mundo está tentando
tirar algo de alguém antes que tirem dele. E nesse frenesi, alguém acaba se
desvalorizando ou talvez todos nós estejamos nos desvalorizando.
Eu não critico a PM, ou qualquer outra
instituição. Eu quero criticar o cidadão que deveria se dar o respeito e não o
faz, mas quer ser chamado de cidadão. Quer ter direitos de cidadão, mas não
quer nem de longe os deveres do cidadão. Quando o cidadão oferece uma propina,
recebe ou paga, na minha pequena e humilde opinião ele está mostrando o quanto
ele vale.
Por favor, me responda: Você que se
acha um cidadão honesto e pagador de impostos, quanto você vale?
Ronildo da Cruz Ribeiro
Pastor da IDPB Monte Horebe
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Se nós dermos uma propina de 10 reais, nós estamos valendo 10 reais.